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"AMORIS LAETITIA" e as segundas núpcias

  • murdochwilliam28
  • May 15
  • 7 min read

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Minha reflexão agora sobre a segunda união matrimonial dos católicos vai praticamente apenas copiar os trechos desta exortação,  a Amoris Laetícia de 8 de abril de 2016 – A alegria do Amor emitida pelo Papa Francisco como resultado das reuniões sinodais. Os trechos em negrito eu os realcei.

Como curiosidade observo que somando todas as palavras que Cristo emitiu sobre a indissolubilidade do casamento o número não passa de 120.

E para comparar com o tamanho desta exortação apostólica, que tem 335 laudas, exponho a tabela:

Número de palavras (total) das 2 epístolas de São Paulo aos Coríntios:  oito mil e setecentas

Número de palavras (total) das 2 epístolas de São Paulo aos Tessalonicenses: nove mil e novecentas

Número de palavras (total) do Evangelho de São Marcos: vinte e duas mil

Número de palavras (total) da exortação apostólica do Papa Francisco:  vinte e cinco mil e seiscentas.

  Mateus 19:4-6: 

"Ele respondeu: “Não compreendem o que Deus disse no princípio: 'Deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne'? Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus juntou, o homem não separe”."

  Marcos 10:6-9: 

"Mas desde o princípio da criação, Deus os criou homem e mulher. Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe e se une à sua mulher, e os dois se tornam uma só carne. Assim, eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus juntou, o homem não separe.” 

Mateus 5, 31-32 Também foi dito: «Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe libelo de repúdio». Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, expõe-na a adultério; e o que desposar a mulher repudiada, comete adultério.

Mateus 19,3 – alguma repetição há neste trecho e também no de Marcos (Marcos 10:2-12).

Ou seja, tudo o que se seguiu desde a ordem de Cristo foi acréscimos e mais acréscimos, desenvolvimentos da doutrina, interpretações, em várias épocas da Igreja, naturalmente sob os cuidados dos bispos e dos Papas com a bênção do Espírito Santo. Com isto, apenas estou querendo dizer o que até uma das frases desta exortação afirma: se houve desenvolvimento da doutrina até hoje, nada impede que continue havendo.

Ao mesmo tempo, dada a extensão desta carta, qual o percentual de nubentes que a leriam integralmente, mesmo sob a tutela dos catequistas? Um por cento?  E os sacerdotes paroquiais? 20 por cento? Quase duvido...

Seguem agora os números das laudas e os respectivos textos.

78.

 «O olhar de Cristo, cuja luz ilumina todo o homem, inspira o cuidado pastoral da Igreja pelos fiéis que simplesmente vivem juntos, que contraíram matrimónio apenas civil ou são divorciados que voltaram a casar. Na perspectiva da pedagogia divina, a Igreja olha com amor para aqueles que participam de modo imperfeito na vida dela: com eles, invoca a graça da conversão; encoraja-os afazerem o bem, a cuidarem com amor um do outro e colocarem-se ao serviço da comunidade onde vivem e trabalham. (...) Quando a união alcança uma estabilidade notável por meio dum vínculo público – e se reveste de afecto profundo, responsabilidade pela prole, capacidade de superar as provações –, pode ser vista como uma oportunidade a encaminhar para o sacramento do matrimónio, sempre que este seja possível».

79.

 «Perante situações difíceis e famílias feridas, é preciso lembrar sempre um princípio geral: “Saibam os pastores que, por amor à verdade, estão obrigados a discernir bem as situações” O grau de responsabilidade não é igual em todos os casos, e podem existir fatores que limitem a capacidade de decisão. Por isso, ao mesmo tempo que se exprime com clareza a doutrina, há que evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diferentes situações, e é preciso estar atentos ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição».


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Sub título: Acompanhar depois das rupturas e dos divórcios

242.

Os Padres disseram que «é indispensável um discernimento particular para acompanhar pastoralmente os separados, os divorciados, os abandonados. Tem-se de acolher e valorizar sobretudo a angústia daqueles que sofreram injustamente a separação, o divórcio ou o abandono, ou então foram obrigados, pelos maus-tratos do cônjuge, a romper a convivência. Não é fácil o perdão pela injustiça sofrida, mas constitui um caminho que a graça torna possível. Daí a necessidade duma pastoral da reconciliação e da mediação, inclusive através de centros de escuta especializados que se devem estabelecer nas dioceses». Ao mesmo tempo, «as pessoas divorciadas que não voltaram a casar (que são muitas vezes testemunhas da fidelidade matrimonial) devem ser encorajadas a encontrar na Eucaristia o alimento que as sustente no seu estado. A comunidade local e os pastores devem acompanhar estas pessoas com solicitude, sobretudo quando há filhos ou é grave a sua situação de pobreza». Um falimento matrimonial torna-se muito mais traumático e doloroso quando há pobreza, porque se têm muito menos recursos para reordenar a existência. Uma pessoa pobre, que perde o ambiente protetor da família, fica duplamente exposta ao abandono e a todo o tipo de riscos para a sua integridade.

243.

 Quanto às pessoas divorciadas que vivem numa nova união, é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que «não estão excomungadas» nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial. Estas situações «exigem um atento discernimento e um acompanhamento com grande respeito, evitando qualquer linguagem e atitude que as faça sentir discriminadas e promovendo a sua participação na vida da comunidade. Cuidar delas não é, para a comunidade cristã, um enfraquecimento da sua fé e do seu testemunho sobre a indissolubilidade do matrimónio; antes, ela exprime precisamente neste cuidado a sua caridade».

244.

 Além disso, um grande número de Padres «sublinhou a necessidade de tornar mais acessíveis, ágeis e possivelmente gratuitos de todo os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade». A lentidão dos processos irrita e cansa as pessoas. Os meus dois documentos recentes sobre tal matéria levaram a uma simplificação dos procedimentos para uma eventual declaração de nulidade matrimonial. Através deles, quis também «evidenciar que o próprio bispo na sua Igreja, da qual está constituído pastor e chefe, é por isso mesmo juiz no meio dos fiéis a ele confiados». Por isso, «a aplicação destes documentos é uma grande responsabilidade para os Ordinários diocesanos, chamados eles próprios a julgar algumas causas e a garantir, de todos os modos possíveis, um acesso mais fácil dos fiéis à justiça. Isto implica a preparação de pessoal suficiente, composto por clérigos e leigos, que se dedique de modo prioritário a este serviço eclesial. Por conseguinte, será necessário colocar à disposição das pessoas separadas ou dos casais em crise um serviço de informação, aconselhamento e mediação, ligado à pastoral familiar, que possa também acolher as pessoas tendo em vista a investigação preliminar do processo matrimonial».

Sub título: Algumas situações complexas

As circunstâncias atenuantes no discernimento pastoral

301.

 Para se entender adequadamente por que é possível e necessário um discernimento especial nalgumas situações chamadas «irregulares», há uma questão que sempre se deve ter em conta, para nunca se pensar que se pretende diminuir as exigências do Evangelho. A Igreja possui uma sólida reflexão sobre os condicionamentos e as circunstâncias atenuantes. Por isso, já não é possível dizer que todos os que estão numa situação chamada «irregular» vivem em estado de pecado mortal, privados da graça santificante. Os limites não dependem simplesmente dum eventual desconhecimento da norma. Uma pessoa, mesmo conhecendo bem a norma, pode ter grande dificuldade em compreender «os valores inerentes à norma ou pode encontrar-se em condições concretas que não lhe permitem agir de maneira diferente e tomar outras decisões sem uma nova culpa. Como bem se expressaram os Padres sinodais, «pode haver fatores que limitam a capacidade de decisão». E São Tomás de Aquino reconhecia que alguém pode ter a graça e a caridade, mas é incapaz de exercitar bem alguma das virtudes, pelo que, embora possua todas as virtudes morais infusas, não manifesta com clareza a existência de alguma delas, porque a prática exterior dessa virtude está dificultada: «Diz-se que alguns Santos não têm certas virtudes, enquanto experimentam dificuldade em pô-las em ato, embora tenham os hábitos de todas as virtudes».

302.

 A propósito destes condicionamentos, o Catecismo da Igreja Católica exprime-se de maneira categórica: A imputabilidade e responsabilidade dum ato podem ser diminuídas, e até anuladas, pela ignorância, a inadvertência, a violência, o medo, os hábitos, as afeições desordenadas e outros fatores psíquicos ou sociais. Em outro parágrafo, refere-se novamente às circunstâncias que atenuam a responsabilidade moral, nomeadamente «a imaturidade afetiva, a força de hábitos contraídos, o estado de angústia e outros fatores psíquicos ou sociais». Por esta razão, um juízo negativo sobre uma situação objetiva não implica um juízo sobre a imputabilidade ou a culpabilidade da pessoa envolvida. No contexto destas convicções, considero muito apropriado aquilo que muitos Padres sinodais quiseram sustentar: «Em determinadas circunstâncias, as pessoas encontram grandes dificuldades para agir de maneira diferente. (...) O discernimento pastoral, embora tendo em conta a consciência retamente formada das pessoas, deve ocupar-se destas situações. As próprias consequências dos atos praticados não são necessariamente as mesmas em todos os casos».

303.

 A partir do reconhecimento do peso dos condicionamentos concretos, podemos acrescentar que a consciência das pessoas deve ser mais bem incorporada na práxis da Igreja em algumas situações que não realizam objetivamente a nossa concepção do matrimónio. É claro que devemos incentivar o amadurecimento duma consciência esclarecida, formada e acompanhada pelo discernimento responsável e sério do pastor, e propor uma confiança cada vez maior na graça. Mas esta consciência pode reconhecer não só que uma situação não corresponde objetivamente à proposta geral do Evangelho, mas reconhecer também, com sinceridade e honestidade, aquilo que, por agora, é a resposta generosa que se pode oferecer a Deus e descobrir com certa segurança moral que esta é a doação que o próprio Deus está a pedir no meio da complexidade concreta dos limites, embora não seja ainda plenamente o ideal objetivo. Em todo o caso, lembremo-nos que este discernimento é dinâmico e deve permanecer sempre aberto para novas etapas de crescimento e novas decisões que permitam realizar o ideal de forma mais completa.

Termina aqui a parte do texto que nos interessa sobre o assunto. Agora é questão



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de meditar, rezar e usar os caminhos que a Igreja fornece. Ad Maiorem Dei Gloriam.

 
 
 

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