ABORTO
- murdochwilliam28
- May 12
- 5 min read
UMA REFLEXÃO AMPLIADA SOBRE O ABORTO: PONTOS DE VISTA RELIGIOSO, LEGAL E CULTURAL
O aborto é um dos temas mais sensíveis e polêmicos de nosso tempo. Envolve dimensões complexas, como a religião, a cultura, a ética e a legislação. Nesta reflexão, pretendo abordar essa realidade a partir do ponto de vista católico, sem, no

entanto, deixar de considerar também os aspectos humanos, legais e sociais que envolvem a escolha de interromper uma gestação. A intenção aqui não é impor uma verdade, mas lançar luz sobre diferentes ângulos desse drama humano.
Do ponto de vista da Igreja Católica, o aborto é visto como um crime grave e um pecado mortal. Isso porque, segundo a doutrina cristã, a vida humana começa desde o momento da concepção. Desde esse instante, há uma alma, uma existência única e irrepetível diante de Deus. O feto não é uma mera “parte do corpo” da mulher, mas sim um novo ser humano em desenvolvimento, com dignidade e direito à vida. A tradição milenar da Igreja não admite nenhuma brecha nesse princípio fundamental: a vida é sagrada, desde o seu início até o seu fim natural.
Por isso, a Igreja se empenha incansavelmente na missão de esclarecer e educar seus fiéis sobre o valor da vida e a gravidade do aborto. Esse esforço, no entanto, esbarra em uma realidade dolorosa: muitas mulheres católicas acabam, por diferentes motivos, recorrendo ao aborto. É preciso reconhecer que a vida real apresenta dilemas que não se resolvem apenas com doutrina. Frequentemente, essas mulheres engravidam em situações difíceis: relações instáveis, envolvimentos passageiros, falta de apoio familiar ou mesmo coerção emocional. Ao se verem diante de uma gravidez indesejada, muitas se sentem perdidas. E, após o chamado "deslize" inicial — uma relação desprotegida, um momento de fraqueza ou paixão —, acabam por tomar uma segunda decisão, ainda mais grave: a de interromper a gestação.
Se olharmos o aborto do ponto de vista puramente humano, desprovido de fé ou espiritualidade, e se não houver uma legislação clara a respeito, o ato pode parecer aceitável ou até mesmo justificável. Em muitos países, por exemplo, o aborto é legal até determinado estágio da gestação. Nesses contextos, interromper uma gravidez pode não resultar em nenhuma consequência jurídica, como prisão ou multa. Mas será que a ausência de punição legal elimina o peso moral ou ético do ato?
Um argumento frequentemente usado em defesa do aborto é o de que "o corpo é da mulher, e somente ela pode decidir o que fazer com ele". Em parte, esse argumento contém uma verdade: a mulher é, sim, a principal responsável por seu corpo e deve ter autonomia sobre sua saúde e decisões. No entanto, há um ponto crucial que não pode ser ignorado: o feto não é apenas “parte” da mulher, como um órgão ou um tecido qualquer. Ele é o fruto de duas vidas — uma união biológica entre homem e mulher — e carrega material genético de ambos. Em termos científicos, ele é 50% da mãe e 50% do pai. Portanto, dizer que a mulher é a única dona do feto é, ao menos do ponto de vista biológico, um equívoco.

Além disso, vivemos em uma sociedade onde o direito à vida é protegido pelo Estado. Em muitos países, por exemplo, o suicídio é considerado crime ou, no mínimo, um sinal de desequilíbrio que exige intervenção. Isso mostra que nem mesmo sobre a própria vida temos total liberdade. Então, como poderia alguém ter o poder de tirar a vida de outro ser, ainda que em desenvolvimento?
Chegamos, assim, ao ponto principal desta reflexão: por que uma mulher decide correr o risco de um aborto, às vezes em condições precárias, arriscando até sua própria vida? O que a leva a não considerar a possibilidade de levar a gestação adiante, mesmo diante das dificuldades?
A resposta está em grande parte na percepção que se tem do futuro. Se a mulher vê aquele feto como uma futura criança amada, bem-educada, capaz de crescer, contribuir para a sociedade e até mesmo retribuir o amor recebido, a tendência é que ela hesite, pense duas vezes antes de tomar uma decisão drástica. É como guardar um bilhete de loteria com alta chance de vitória. Por outro lado, se tudo ao seu redor é abandono, violência, miséria, e a perspectiva de futuro é desoladora, o feto pode ser visto não como uma promessa, mas como um peso — um boleto a pagar. Em vez de esperança, a gravidez se torna um fardo.
Dessa forma, vemos que não se trata apenas de doutrina ou fé. A decisão pelo aborto ou pela vida é profundamente influenciada pela realidade social, pela cultura ao redor, pelo ambiente familiar e comunitário. A mulher que vive em um lar acolhedor, rodeada de bons exemplos, com acesso à saúde, educação e segurança, tende a valorizar mais a vida que carrega. Já aquela que vive na miséria, sem apoio, cercada de desesperança, pode não encontrar motivos suficientes para continuar a gestação.
A Igreja, com sua missão espiritual, tenta mostrar o valor da vida sob a ótica do Reino de Deus: cada criança é uma joia preciosa, uma alma amada desde o ventre. Porém, para muitas mulheres, essa linguagem espiritual não encontra eco em sua rotina diária. É difícil enxergar a beleza da vida quando tudo ao redor grita desespero. Por isso, é urgente também um esforço humano, concreto, que vá além da palavra e chegue à ação.
Precisamos, como sociedade, destacar não apenas os valores espirituais, mas também as qualidades humanas que essa nova vida pode trazer. Precisamos lembrar às mulheres que a criança pode ser alguém genial, criativa, útil à comunidade. Que pode ser uma força transformadora no meio em que vive. Precisamos criar ambientes onde isso seja possível. Onde o nascimento de uma criança seja sinônimo de esperança, não de medo.
Concluo esta reflexão reforçando essa ideia pouco abordada: vale a pena insistir nas possibilidades humanas e nos potenciais da nova vida. Não apenas pela fé, mas também pelo que essa vida pode significar para a mãe, para a família e para a sociedade. A defesa da vida precisa ser feita com palavras e ações, com espiritualidade e política pública, com empatia e realismo. Só assim poderemos transformar o aborto de uma escolha desesperada em uma decisão evitada por amor — e por esperança.
FINALMENTE LEMBRAR QUE TODAS AS PESSOAS DE QUEM GOSTAMOS, AMIGOS, AMIGAS, ATORES, ARTISTAS, JOGADORES DE DIVERSOS ESPORTES, ESPORTISTAS, PROFESSORES, AMORES, COMPANHEIROS, MÉDICOS, IDOLOS, ENFIM TODOS OS QUE NOS AJUDAM A PASSAR BEM A VIDA NÃO EXISTIRIAM SE SUAS MÀES TIVESSEM DESISTIDO DELES... (Reflexão séria que veio enquanto eu ouvia Friedrich Gulda, um dos artistas que aprecio muito!)



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